sábado, agosto 13, 2005

Balada da Rita - Sérgio Godinho

Disseram-me um dia 'Rita, põe-te em guarda'
'Aviso-te, a vida é dura, põe-te em guarda'
Cerra os dois punhos e andou, põe-te em guarda
Eu disse adeus à desdita
E lancei mãos à aventura
E ainda aqui está quem falou

Galguei caminhos de ferro, põe-te em guarda
Palmilhei ruas à fome, põe-te em guarda
Dormi em bancos à chuva, põe-te em guarda
E a solidão, não erre
É só chamá-la o seu nome
Vai que nem uma luva

Andei com homens de faca, põe-te em guarda
Vivi com homens safados, põe-te em guarda
Morei com homens de briga, põe-te em guarda
Uns acabaram de maca
E outros inda mais deitados
O coveiro que o diga

O coveiro que o diga
Quantas vezes se apoiou na enxada
E o coração que o conte
Quantas vezes já bateu
Pra nada

E um dia de tanto andar, põe-te em guarda
Eu vi-me exausta e exangue, põe-te em guarda
Entre um berço e um caixão, põe-te em guarda
Mas quem tratou de me amar
Soube estancar o meu sangue
E soube erguer-me do chão

Veio a fama e veio a glória, põe-te em guarda
Passaram-me de ombro em ombro, põe-te em guarda
Encheram-me de flores o quarto, põe-te em guarda
Mas é sempre a mesma história
Depois do primeiro assombro
Logo o corpo fica farto

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Balada da Rita, hem!....Espero que este blog tenha muito visitantes, porque é muito bom! Nunca pensei, mas é:) Parabéns!!

7:20 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home